sábado, 27 de outubro de 2012

Paraná demanda políticas públicas

Pessoas trans debatem em encontro realizado em Curitiba-PR como avançar na agenda de direitos humanos das pessoas travestis e transexuais.
Regulamentação de lei para direito a nome civil, atendimento humanizado no processo de readequação dos corpos segundo a identidade de gênero e direito a vida. Circulam por estas questões as demandas da população de travestis e transexuais da região sul na formulação de políticas públicas dirigidas a população trans. Estas foram algumas das reflexões realizadas no IX Encontro Regional Sul de Travestis e Transexuais, realizado em Curitiba-PR entre os 17 e 21 de outubro. A etapa regional antecede o Encontro Nacional e é um importante momento para avançar na agenda de direitos humanos das pessoas travestis e transexuais da região sul.
“As propostas que levantamos no Encontro Regional para políticas públicas são as mesmas já propostas nas conferências para população LBGT. Somos uma população invisível que o governo não está reconhecendo”, destaca Carla Amaral , coordenadora do Transgrupo Marcela Prado e coordenadora do IX Encontro Regional Sul de Travestis e Transexuais.
“Ainda estamos, apesar de termos passado por duas Conferências Nacionais, lutando por um direito básico que é o direito a vida. As travestis e transexuais não tem direito a educação, a formação profissional, mas nós ainda temos um princípio fundamental não garantido que é o direito de ficar viva”, aponta Márcio Marins, membro do Conselho de Segurança Pública do Paraná e coordenador da Parada da Diversidade em Curitiba.
Regulamentação de lei para direito a nome civil
Há resoluções e decretos, mas não há leis ainda que garantam a mudança do nome civil da população transexual. Estas resoluções, na prática, apenas sugerem mas não garantem a mudança. Hoje para uma transexual, por exemplo, modificar seu nome para ser reconhecida como mulher, e evitar passar por constrangimentos diversos, é necessário contratar um advogado e abrir um processo judicial. O ganho de causa e o tempo de tramitação do processo dependem da interpretação da instância judiciária de cada estado.
Atendimento humanizado
O acompanhamento à população trans no processo de readequação dos corpos, em centros ambulatoriais com atendimento psicoassistencial e hormonal, bem como a qualificação dos profissionais do setor de saúde para atendimento a travestis e transexuais também foram propostas levantadas no Encontro. Uma queixa frequente é que os profissionais da saúde não usam o nome social e expõem a pessoa trans a constrangimentos.
Outras propostas são o monitoramento pelo Ministério da Saúde dos centros ambulatoriais para identificar inadequações e discriminação no processo de transexualização e a ampliação de hospitais que façam a cirurgia de readequação física. No país apenas quatro hospitais realizam a cirurgia. A população trans no estado do Paraná, por exemplo, costuma se deslocar para as cidades do Rio de Janeiro ou São Paulo para fazer o procedimento – o que dificulta o acompanhamento permanente e a readequação.
Direito à vida
Segundo dados do Relatório sobre Violência Homofóbica no Brasil (2011) a região sul soma cerca de 1000 denúncias de violações de direitos da população LGBT relatadas ao serviço Disque 100, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República: 424 no Paraná, 416 no Rio Grande do Sul e 143 em Santa Catarina. Homicídios registrados foram 12 no Paraná, sete no Rio Grande do Sul e três em Santa Catarina. Esses dados sinalizam, na compreensão das organizações, a importância de dimensionar a gravidade e a extensão das violências cometidas contra a população LGBT. Estima-se que muitos casos de situações de violência não sejam notificados devido à dificuldade de muitas pessoas em tornar pública sua orientação sexual. Mesmo assim, segundo o relatório, as denúncias de violência contra a população LGBT somam 67,8% do total de denúncias realizadas, ficando a frente de denúncias de violências cometidas contra crianças e mulheres no mesmo período.
A agressão a pessoas trans não são crimes comuns – em particular há alto grau de barbárie e a ideia de correção comportamental, destaca Carla Amaral. “A transfobia possui um requinte de crueldade. Uma travesti não é morta com uma facada, mas com 40. Não é um tiro, são 15 tiros, são arrancados os órgãos sexuais e cabeças. Nos casos de mutilação, há a ideia de que a violência vem para punir aquela que devia ter aprendido a ser homem, no caso da travesti. Além disso, a estrutura de segurança pública não está preparada para atender e proteger esta parcela da população. Há um desrespeito na forma de tratar e despreparo dos profissionais de segurança em não garantir segurança a travestis e não reconhecê-las enquanto figuras femininas  – quando se trata de um caso envolvendo uma travesti a policia não aparece, fica afirmando nome do homem, os processos não têm andamento – é um estimulo ao crime pela punição ser inexistente”, relata a coordenadora do IX Encontro Regional Sul de Travestis e Transexuais..





FONTE: Conexão Futura

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